Obtendo Qualidade de Software com o RUP

Abstract. This article describes what should be considered in the software development to achieve acceptable quality patterns. The article shows that quality software is something that should be considered in all time in the application life cycle. One of the features that can maximize the software’s quality level is the iterative and incremental development. Moreover, the failures of the waterfall development process and the show and description of the Rational Unified Process (RUP)’s features will be approached.

Resumo. Este artigo descreve o que deve ser levado em consideração no desenvolvimento de software para atingir padrões de qualidade aceitáveis. O artigo mostra que a qualidade de software é algo que deve ser levado em consideração em todo momento do ciclo de vida do aplicativo. Uma das características que podem elevar o nível de qualidade do software é o desenvolvimento iterativo e incremental. Além disso, são abordadas as falhas do processo de desenvolvimento em cascata e a apresentação e descrição das características do Rational Unified Process (RUP).




1. Introdução

A cada dia que passa, as organizações se tornam mais dependentes dos sistemas de informação. Atualmente, não apenas sistemas que podem colocar a vida de pessoas em risco são considerados sistemas de missão crítica. Hoje, os sistemas de informação de muitas empresas são qualificados como de missão crítica, pois podem gerar enormes prejuízos financeiros caso haja eventuais problemas com os mesmos.

A atividade de desenvolvimento de software possui um alto grau de risco. Essa atividade já gerou grandes prejuízos no passado e continua gerando. Atualmente, muitos projetos de desenvolvimento de software são iniciados e não são terminados, e outros são terminados consumindo prazos e orçamentos bem acima do que foi estipulado no início do projeto. Além disso, muitos produtos desenvolvidos possuem um nível muito baixo de qualidade.

Conforme [Kruchten 2003], um produto de qualidade deve ter ausência de defeitos e, principalmente, deve atender aos propósitos desejados. Alguma coisa com qualidade deve fazer o que as pessoas querem que ela faça. Se alguma coisa é livre de defeitos, mas não faz o que as pessoas querem que ela faça, essa coisa é um produto desnecessário.

A qualidade de software não pode ser avaliada de maneira isolada. Softwares são desenvolvidos pelas organizações através de procedimentos. Um método pobre ou a ausência de uma metodologia pode ser a causa da baixa qualidade. Sendo assim, a avaliação da qualidade está diretamente relacionada com a qualidade de processos e metodologias utilizadas.

2. Metodologias de Desenvolvimento

Metodologias de desenvolvimento e estruturas de avaliação de processos podem ser comparadas sob duas dimensões: de um lado, temos o vértice pouca formalidade / muita formalidade e de outro, o método cascata / método iterativo, exemplificado através da Figura 1.


Figura 1: Mapa de processos

Os processos com pouca formalidade produzem o mínimo de documentação possível e procedimentos de trabalho bastante informais. Os formais possuem maior documentação, mantém o histórico dos artefatos gerados e possuem gerenciamento de mudanças.
O método cascata é um procedimento linear, onde a integração e os testes são feitos no fim do ciclo de desenvolvimento. O método iterativo é guiado pelo risco, ou seja, é voltado para a eliminação e minimização de riscos. A implementação da arquitetura, a integração e os testes são realizados desde o início do ciclo de vida do aplicativo.

2.1 Método Cascata

Esse método, também conhecido como seqüencial, ou linear, foi utilizado por muitos anos e ainda é utilizado. Segundo [Kroll e Kruchten 2003], esse processo se baseia nos seguintes passos:
  • Entender completamente o problema a ser resolvido, seus requisitos e suas restrições;
  • Projetar uma solução que atenda todos os requisitos e restrições. Examinar o projeto cuidadosamente e ter certeza que todas as parte interessadas concordam que essa é a solução certa;
  • Fazer a implementação do projeto, usando as melhores técnicas de engenharia;
  • Verificar se a solução atende aos requisitos estabelecidos;
  • Distribuir o produto.

Esse processo é similar à forma a qual pontes e edifícios são construídos. Algumas coisas devem ser feitas dessa maneira. Em um projeto com dois meses de duração, essa metodologia poderia ser usada. Mas normalmente, softwares não devem ser desenvolvidos dessa forma.

2.2 Método Iterativo e Incremental

O método iterativo foi criado para superar as dificuldades impostas pelo modelo cascata. Já que o modelo cascata pode ser usado com sucesso em projetos pequenos, onde o domínio do problema é bem conhecido, a solução encontrada foi dividir grandes projetos em projetos menores.
Dessa maneira, alguns requisitos e alguns riscos podem ser identificados, um projeto pode ser realizado, uma implementação pode ser construída para esse projeto, validada e testada. Esse processo se repete com outras partes do sistema até que o sistema inteiro seja terminado. Isso é chamado de modo iterativo.

Em cada pequena parte do sistema é feita uma iteração. A iteração segue o modelo seqüencial tradicional, com identificação de necessidades, análise, projeto, implementação e testes.
A cada iteração o sistema é incrementado até que o ciclo de desenvolvimento do aplicativo termine. Nesse ponto, um novo ciclo de desenvolvimento pode ser iniciado.

A maneira de desenvolver projetos através de várias iterações que vão incrementando o projeto até que se chegue a um objetivo é chamada de modo iterativo e incremental. Atualmente esse paradigma de desenvolvimento é bem aceito e vem sendo utilizado por várias metodologias de desenvolvimento de software.

3. O Rational Unified Process

Conforme [Kroll e Kruchten 2003], podemos ter três definições para o Rational Unified Process (RUP):
  • O RUP é uma maneira de desenvolvimento de software que é iterativa, centrada à arquitetura e guiada por casos de uso. É descrita em vários livros e artigos. Uma das maiores fontes de informações é o próprio produto IBM RUP [1], que contém guias detalhados, exemplos e modelos cobrindo todo o ciclo de vida do software;
  • O RUP é um processo de engenharia de software bem definido e bem estruturado. O RUP define claramente quem é responsável pelo que, como as coisas devem ser feitas e quando fazê-las. O RUP também provê uma estrutura bem definida para o ciclo de vida de um projeto RUP, articulando claramente os marcos essenciais e pontos de decisão;
  • O RUP é também um produto de processo que oferece uma estrutura de processo customizável para a engenharia de software. O produto IBM RUP suporta a customização e autoria de processos, e uma vasta variedade de processos, ou configuração de processos, podem ser montadas nele. Essas configurações do RUP podem ser criadas para suportar equipes grandes e pequenas, e técnicas de desenvolvimento disciplinadas ou menos formais. O produto IBM RUP contém várias configurações e visões de processos prontas que guiam analistas, desenvolvedores, testadores, gerentes de projeto, gerentes de configuração, analistas de dados, e outros membros da equipe de desenvolvimento em como desenvolver o software. Ele tem sido utilizado por muitas companhias em diferentes setores da indústria.

O RUP utiliza a Linguagem Unificada de Modelagem (UML [2]) para especificar, modelar e documentar artefatos. A UML é um padrão definido pelo OMG [3] e ter se tornado o padrão empresarial para a modelagem orientada a objetos [4] .

Por ser flexível e configurável, o RUP pode ser utilizado em projetos de pequeno, médio e grande porte. [Kroll e Kruchten 2003] mostra como o RUP pode ser utilizado em um projeto de uma semana com uma equipe de uma pessoa.

3.1 Os Princípios do RUP

Não existe uma maneira exata de aplicar o RUP, pois ele pode ser aplicado de várias formas e será diferente em cada projeto e organização. Porém, existem alguns princípios que podem caracterizar e diferenciar o RUP de outros métodos iterativos:
  • Atacar os riscos cedo e continuamente;
  • Certificar-se de entregar algo de valor ao cliente;
  • Focar no software executável;
  • Acomodar mudanças cedo;
  • Liberar um executável da arquitetura cedo;
  • Construir o sistema com componentes;
  • Trabalhar junto como um time;
  • Fazer da qualidade um estilo de vida, não algo para depois.

3.2 Elementos do RUP

O RUP possui cinco elementos principais: papéis, atividades, artefatos, fluxos de trabalho e disciplinas.
Um papel (ou perfil) define o comportamento e as responsabilidades de um determinado indivíduo ou grupo de indivíduos trabalhando como uma equipe. Papéis não são indivíduos e nem títulos de trabalho. Um indivíduo pode assumir vários papéis. São exemplos de papéis:
  • Analista de sistema – O indivíduo que assume este papel coordena a obtenção dos requisitos e a modelagem dos casos de uso identificando funcionalidades do sistema e estabelecendo limites do sistema;
  • Projetista – Esse indivíduo define responsabilidades, operações, atributos, relacionamentos de uma ou mais classes e determina como elas devem ser ajustadas para serem implementadas no ambiente;
  • Projetista de testes – Responsável pelo planejamento, projeto, implantação e avaliação de testes, incluindo a geração de plano e modelo de teste, implementando procedimentos de testes e avaliando a abrangência dos testes, resultados e a efetividade.

Uma atividade é uma unidade de trabalho que um indivíduo executa quando está exercendo um determinado papel e produz um resultado importante para o contexto do projeto. Cada atividade pode ser dividida em passos. São exemplos de atividades:

  • Planejar uma iteração: realizada pelo papel gerente de projeto;
  • Encontrar casos de uso e atores: realizada pelo papel analista de sistemas;
  • Rever o projeto: realizada pelo papel revisor de projeto;
  • Executar um teste de performance: realizado pelo papel testador de performance.

Um artefato é um pedaço de informação que é produzido, modificado ou utilizado em um processo. Os artefatos são os produtos de um projeto. São as coisas produzidas durante o desenvolvimento do projeto. Artefatos são utilizados como entradas de atividades e são produzidos como saída.
Os artefatos podem ter várias formas:
  • Um modelo, como um modelo de caso de uso, um modelo de projeto;
  • Um elemento de um modelo, como uma classe, um caso de uso, um sub-sistema;
  • Um documento, como um caso de negócio, glossário, visão;
  • Código fonte;
  • Executáveis.
A enumeração de atividades, papéis e artefatos não constituem um processo. É necessário saber a seqüência do desenvolvimento das atividades para que possam ser produzidos artefatos de valor para o projeto. Um fluxo de trabalho [5] é uma seqüência de atividades que são executadas para a produção de um resultado valioso para o projeto. Fluxos de trabalho podem ser representados por diagramas de seqüência, diagramas de colaboração e diagramas de atividades da linguagem UML. O RUP utiliza três tipos de fluxos de trabalho:
  • Fluxos de trabalho principais, associados com cada disciplina (figura 2);
  • Fluxos de trabalho de detalhe, para detalhar cada fluxo de trabalho principal (figura 3);
  • Planos de iteração, que mostram como a iteração deverá ser executada.

Figura 2: Fluxo de trabalho: requisitos


Figura 3: Detalhamento de fluxo de trabalho: analisar o problema

Uma disciplina é uma coleção de atividades relacionadas que fazem parte de um contexto comum em um projeto. As disciplinas proporcionam um melhor entendimento do projeto sob o ponto de vista tradicional de um processo cascata. A separação das atividades em disciplinas torna a compreensão das atividades mais fácil, porém dificulta mais o planejamento das atividades. O RUP possui nove disciplinas, divididas em disciplinas do processo e de suporte. As disciplinas de processo são: modelagem de negócios, requisitos, análise e projeto, implementação, teste e distribuição. As de suporte são: configuração e gerenciamento de mudanças, gerenciamento de projeto, e ambiente.


Figura 4: Arquitetura geral do RUP

Conforme mostra a figura 4, o RUP possui duas dimensões:
  • O eixo horizontal representa o tempo e mostra os aspectos do ciclo de vida do processo à medida que se desenvolve. Representa o aspecto dinâmico do processo. É expresso em termos de fases, disciplinas e marcos.
  • O eixo vertical representa as disciplinas, que agrupam as atividades de maneira lógica, por natureza. Representa o aspecto estático do processo. É descrito em termos de componentes, disciplinas, atividades, fluxos de trabalho, artefatos e papéis do processo.

3.3 O Ciclo de Vida de um Projeto RUP


O ciclo de desenvolvimento no RUP possui quatro fases: iniciação [6] , elaboração, construção e transição. Cada uma é concluída por um marco principal, ou seja, cada fase é basicamente um intervalo de tempo entre dois marcos principais, como é mostrado na figura 5.


Figura 5: As fases e os marcos de um projeto
O ciclo de desenvolvimento termina com uma versão completa do produto de software. As fases definem estados do projeto, que são definidos por riscos que estão sendo mitigados ou questões que precisam ser respondidas.

A fase de iniciação, foca no tratamento de riscos relacionados com o caso de negócio. Deve ser verificado se o projeto é viável e se é financeiramente possível.

Na fase elaboração, o foco deve ser nos riscos técnicos e arquiteturais. O escopo deve ser revisado e os requisitos devem estar mais compreendidos.

Durante a construção, a atenção será voltada para os riscos “ lógicos ”, e a maior parte do trabalho será realizada.

Na fase de transição, serão tratados os riscos associados com a logística de distribuição do produto para a base de usuários.

Embora varie muito em empresas e projetos diferentes, um ciclo de desenvolvimento para um projeto de tamanho médio, possui uma distribuição de esforço e programação como é apresentado na tabela 1 e na figura 6.

Tabela 1. Distribuição de esforço e programação em projetos de médio porte.


Figura 6: Distribuição de esforço e programação em projetos de médio porte.

Conforme descrito na documentação do RUP, cada passagem pelas quatro fases gera uma geração do software. A menos que o produto "desapareça", ele irá se desenvolver na próxima geração, repetindo a mesma seqüência de fases de iniciação, elaboração, construção e transição. Esses ciclos subseqüentes são chamados de ciclos de evolução. A cada ciclo, são produzidas novas gerações.

Os ciclos de evolução podem ser disparados por melhorias sugeridas pelos usuários, mudanças no contexto do usuário, mudanças na tecnologia subjacente, reação à concorrência e assim por diante. Normalmente, a menos que ocorram mudanças significativas do produto ou da arquitetura, os ciclos de evolução têm fases de Iniciação e Elaboração bem menores, pois a definição e a arquitetura básicas do produto foram determinadas por ciclos de desenvolvimento anteriores.

4. Conclusão

Com a utilização de uma metodologia de desenvolvimento de software como o RUP, é possível obter:
  • Qualidade de software;
  • Produtividade no desenvolvimento, operação e manutenção de software;
  • Controle sobre desenvolvimento dentro de custos, prazos e níveis de qualidade desejados;
  • Estimativa de prazos e custos com maior precisão.

Apesar dos benefícios, deve-se ter a consciência que os benefícios não virão de maneira imediata. É necessário adquirir treinamento adequado, adaptação da metodologia no contexto ao qual ela será utilizada, apoio especializado para as equipes de desenvolvimento e tempo para a absorção da metodologia.

Mais informações a respeito do RUP podem ser obtidas no site do IBM RUP e também no site da comunidade IBM Rational. (IBM 2004).

Referências

Comunidade IBM RUP (2004) http://www-130.ibm.com/developerworks / rational / community, Novembro.
Fowler, Martin (2003) “ UML Distilled: A Brief Guide to the Standard Object Modeling Language ”, Addison Wesley, 3 ª Edição.
IBM Rational Unified Process Versão 2003.06.12.01. (2004) http://www-306.ibm.com/software/rational, Novembro.
IBM RUP (2004) http://www-130.ibm.com/developerworks/rational/products/rup,Novembro.
Kroll, P. e Kruchten P. (2003) “ The Rational Unified Process Made Easy: A Practitioner ' s Guide to the RUP ”, Addison Wesley.
Kruchten, P. (2003) “ The Rational Unified Process: An Introduction ”, Addison Wesley, 3 ª Edição.
Larman, Craig (2001) “ Applying UML and Patterns – An Introduction to Object-Oriented Analysis and Design and the Unified Process ”, Prentice Hall, 2 ª Edição.
Object Management Group (2004) http://www.omg.org, Novembro.
Perrelli, Hermano (2004) “ Visão Geral do RUP ”. Centro de Informática, Universidade Federal de Pernambuco. http://www.cin.ufpe.br/~if717/slides/3-visao-geral-do-rup.pdf, Novembro.
[1] Após a compra da Rational pela IBM, o produto Rational Unified Process passou a se chamar IBM Rational Unified Process (IBM RUP).
[2] UML: Abreviatura do inglês Unified Modeling Language. [Fowler 2003] é uma ótima referência para esse assunto.
[3] OMG: Object Management Group.
[4] Consulte [Larman 2001] para informações sobre aplicação da UML para análise e projeto orientados a objeto
[5] O termo fluxo de trabalho vem do termo inglês workflow. Pode ser traduzido também como fluxo de atividade.
[6] Iniciação é a tradução do termo inglês “ inception ”. Esse termo é também traduzido como “ concepção ”.

Por: Ronaldo Rezende Vilela Luiz

QABI Consultoria
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